terça-feira, 13 de novembro de 2018









                   
                                         Non, non, non. Ik heb geen geld. Que fazer? Roubar? Ultima alternativa. vou tocar meu berimbau. Vou tocar meu violão, vou estirar meu chapéu. Vou mandar Coco Chanel fazer um esciádio, assim ninguém vai me chamar de esmoler. E o dinheiro? Hahha, só deus sabe como virá. 

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

DE WALLETJES, DE WALLEN







                                 
                                    Rapaz, fui, um dia, ao Bairro da Luz Vermelha. Juro que fiquei com medo. Eu, Hansje, Luiz, depois te falo dele, havia mais alguma pessoa, Sanne, talvez, não me recordo. Ás vezes nem me lembro que comi ontem. Imaginem. Impressionante, a tolerância do holandês. Um bairro imenso, de prostituição, bares, restaurantes, cafés, casas de jogos, lojas de objetos sexuais, as sex shops,   cinemas eróticos, teatro, casas de strip-tease e até um museu de sexo. Uma loucura. Há, se não fosse a Hansje, que interferiu, naquele dia, teria apanhado de um gigolô. Por fazer eu, gozação das prostitutas, falava em português com Hansje, mas um dos caras percebeu que eu estava fazendo gozação e veio me abordar. Quando estava o cara parado, numa bicicleta, me interpelando. Ele falava em holandês, claro que não entendi, mas como o corpo fala mais do que a língua, logo percebi que estava correndo perigo. Hansje interferiu e lhe disse que não entendia holandês, nem tampouco estava falando das prostitutas. O cara não aceitou bem a ideia, mas me deixou em paz mandando que eu fosse embora dalí. Sai, escabriado. Embora nunca tenha apanhado de ninguém momento tive medo. Sabia que o cara não estava sozinho, outros por ali estavam observando, esperando só o momento de começar a violência. Estes ambientes, em toda parte do mundo são muito violentos e não se deve titubear. Saímos quase correndo. Hansje, me reprovou depois, eu teria feito isto só para me exibir e quase apanhamos, porque na hora do vamos ver, todo mundo cairia no tapa.

sábado, 22 de setembro de 2018








                                              Solidão não rima com alegria, nem com felicidade. Rima com cão, sofreguidão e uma infinidade de palavras em ão das quais o português é rico e único no mundo a ter este sufixo nominal que, por sua nasalidade, é o terror dos estrangeiros ao pronunciá-lo. Não, eu não sinto solidão, porque gosto de ficar só, desde que tenha qualquer amigo à vista com quem possa conversar. Mas mesmo quando não encontro amigos, saio por aí e puxo conversa com qualquer um e daí a pouco já estou num papo firme. O Holandês não é como brasileiro, mas tampouco é como o alemão ou o francês. Ele até topa um papo com desconhecido. Nunca me esqueço. Cheguei num bar, vi um estrado, um microfone e observei que estava ligado. Parece que adivinhei. Não recordo, comecei a cantar Erev Shel Shoshanim e o patrão veio numa alegria inefável me acompanhar. Não tinha a menor ideia de que fosse judeu, pois o era e daí em diante tinha mais um amigo em Amsterdam.

terça-feira, 18 de setembro de 2018













                            Hoje amanheci com vontade de ler alguém, alguém que me lembrasse d´Amsterdam. Erasmo, por exemplo, não, de Rotterdam, filho do padre  Gerard, com Margareth Rogers, sua governanta (Os padrecos, se dizem celibatários, gostavam do torrado, no Brasil, faziam filhos e os criavam como  afilhados, que hipocrisia). Procurei o Elogio da Loucura, lido alguns anos antes, morava em Gandu. Não o encontrei, na bagunça desta minha biblioteca. Pronto, Benedito Espinoza, este sim, d´Amsterdam. Muito o admiro, talvez pela origem portuguesa, de judeus portugueses, mas o cara é difícil, enfadonho, louco seu estilo. Melhor o humor de Erasmo, que o Espinosa com suas teses herméticas. Parece que ele escrevia para uns poucos, com medo da opinião do populacho, mas nem assim escapou da mediocridade. Sua Sinagoga o excomungou, com apenas 23 anos e o fez amargurar a solidão pelo resto da vida.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018














                                 Hansje Nieuwenhuis, seu nome, me acolheu em sua pousada e fomos como irmãos. Gostava de sua companhia, seu humor dentuço, herdara do Brasil,  mostrando alegre os dentes. Casara com um brasileiro e tinha um filho nascido em Belém, onde morara. Falava das mangueiras, da chuva diária, do Ver-o-Peso. do açaí, outras novidades, para mim. Tão grande o Brasil e nos falam tão pouco dele nas escolas que conhecemos mais a Europa do que nossa própria terra. Uma alienação proposital. Não amar nossa própria terra, não lutamos por ela. Hansje me fez ver que o Brasil é grande, belo e inexplorado. Vocês têm tanta riqueza e vivem na miséria. Vocês deixam os estrangeiros tomar conta do país e levar toda riqueza para fora. Se você imaginar como vive a gente do povo, você tem muita dó. Eu imagino, disse, sou do povo. Só não conheço o povo do Pará, mas posso imaginar.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018












                             Vem doce inferno, incendiar meu coração atormentado pelo nada. Poderás, tu, Prometeu, que me criaste de água e argila, me ensinaste a fazer o fogo, que sempre enganas os  poderosos Deuses, com tuas tramas e adivinhações, poderás, tu, dizer o que me reserva o futuro? Ah, se eu soubera! Estaria eu, agora, pregado em frente a este computador, chorando minhas desventuras? Por certo, foi o ombro que encontrei na frieza deste mundo do espetáculo,  das imagens. Ninguém escuta seu vizinho, passou a inimigo, podem invadir tua privacidade, enquanto tu alardeias, aos quatro cantos,  até a comida que comes.

terça-feira, 4 de setembro de 2018












                     Eu comecei a ouvir o barulho nervoso de suas mãos tocando em tudo, sacudindo tubos, caixas, recipientes, se estavam vazios. Amanheceu com a cachorra. Espírito de Amélia. Vai jogar muita coisa fora. É sempre assim, depois fica procurando e atribuindo aos outros, principalmente a mim, o sumiço. Suas mãos grandes e dedos longos futuca tudo e não me deixa dormir. Eu olho por debaixo da coberta. Pensa que estou dormindo. Reclama, murmura, indigna-se, com as coisas que guardo com tanto carinho. Uma diferença entre nós. O passado e o presente, não digo futuro, o futuro não existe, quando ele chega já é presente e logo passado, sem nenhum valor. Difícil compreender isto, daí a ansiedade. Ansiedade, sim. Incapaz de parar num canto, abrir um livro, ler. Ou mesmo pensar. Assim, se morre mais depressa. Pega um vasilhame, mexe nele, sacode-o e depois pega de uma tesoura,  abre-o. Põe seu conteúdo em um pote. Você não mais vai saber o que é aquilo. Nem ela, porque esquece. Vai na caixa de remédios, começa a recortar as cartelas, deixa um ou dois comprimidos que você não sabe o que é. Tudo perdido,  pra pubele.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018














                                              Nero tocou fogo em Roma,
                               Você incendiou meu coração.
                               Dizem que Nero era louco,
                               Por você, meu bem, 
                               Fiquei louco da paixão.
                          Numa tarde de dezembro. O sol escaldava, mesmo quase no fim da tarde. Uma luz acendeu-se. Onde há escuridão, há esperança de luz. Um fótão satisfaz, frente às trevas. Não cala em mim o desejo e o digo ao amigo. Estranhas horas, deveria amaldiçoar-te?
                              

terça-feira, 21 de agosto de 2018








                        
                                     Oh, Deuses dos céus e dos infernos, dizei-me, por favor, eu vos adorarei, onde estou, em que mundo me pusestes, que lugar é este, onde me roubam os sapatos em frente ao elevador?     
                            Acorda, infante não crescido, estás em tua casa, o prédio em que vives também uma faculdade, onde estudam pessoas de toda parte do mundo. Acostuma-te a isto.
                              Ela vinha lá debaixo, talvez da piscina, nua. Eu reclamei. Não iria entrar assim no elevador. Ela me disse não há ninguém aqui e o vizinho lá de cima não vai se importar com isso. Eu puxei do elevador e comecei a gritar: Venham comer esta puta, ela está querendo ser estuprada por trinta homens. Venham e a empurrei com o pé. Ela não parecia se importar com isto e até parecia estar gostando.
                             Dizei-me então, oh Deuses, tudo isto aconteceu? Por quê me fazeis instrumento de sua ira? Por quê me fazeis passar por este tormento? É verdade que existis? Onde inferno vos escondeis? O que faço é por querer, ou eu faço porque vós quereis?  Dizei-mo, preciso saber, não posso ficar nesta indecisão, vós me torturais com isto? Sejais correto, joguem limpo comigo, nosso posso levar para o túmulo esta incerteza. Por quê, deuses implacáveis e inumanos fazeis sofrer a humanidade. Se é verdade que existis, mostrai-vos por inteiro, não permaneçais ocultos, como marginais que atacam sempre na escuridão para que não se possa descobrir sua identidade. Dizei-me, Senhores do espaço infinito, onde quereis que nos encontremos, quereis o que realmente dos simples mortais? Que fizestes dos grandes homens deste espaço? Onde os pusestes? Dizei-me onde está Dante, tão cristão e carola? Que fizestes do bardo Shakespeare? Estará penando nas labaredas do inferno, ou estará gozando a companhia de querubins, serafins, e vós próprios, deuses eternos, em eterna bem-aventurança?

terça-feira, 7 de agosto de 2018
















                                              Quem não andou de bicicleta em Amsterdam, não conhece  Amsterdam. Andar por aquelas ruas, aquelas avenidas, aqueles canais de bicicleta é uma aventura sem par, um prazer indescritível. Quantas vezes fui ao Museu Van Gogh e Rijksmuseu pedalando, dando sempre uma paradinha antes ou depois no Le Tambourin para comer alguma coisa, ou às vezes, pra simplesmente, lá, esperar um turista que pudesse acompanhar ao museu. Sempre  havia algum latino americano disposto a pagar alguns florins para a gente  servir de guia. Mas as experiência nem sempre eram saudáveis, havia aqueles que depois de tudo davam um a zero na gente, principalmente brasileiros. Estes são as piores pessoas a se tratar, querem ter vantagem em tudo. Cínicos e inescrupulosos. Te roubam na maior cara de pau. O pior, a coisa continua até hoje. Não há brasileiro que não pratique seu pequeno furto ou roubo quase diário. Imagine, ele vende seu voto ao político, mas só quem é ladrão é este. Roubam energia e água, com os famosos gatos, mas só quem é ladrão é o político. O engraçado é que esquecem dos juízes, sabidamente, mais corruptos do que os políticos, mas como todo brasileiro tem rabo preso, perdoam-lhes as faltas, e estes,  longe da grita da mídia, faz o que bem quer e entende. Cada um juiz tem seu canal. Um elemento que serve de ponte entre o jurisdicionado e ele, magistrado. Eles não tratam diretamente com os mortais, têm seus representantes aqui na terra para receber o dinheiro que lhes é entregue, descontada já, a comissão. O canal geralmente é um assessor, pago com dinheiro público, nosso portanto e que faz mais este papel. Alguns não têm o menor pejo de dizer que são canais do juiz tal, do desembargador tal ou do ministro tal. Sim, porque isto é bem distribuído, da primeira à ultima instância. Deve ter exceção, mas como não se sabe nunca quem é exceção ou não, neste emaranhado do trocas e negócios e porque constituem uma casta fechada e intransponível, vamos vivendo nosso pequeno hades, pequeno mas sem fim. Eles próprios, por serem herméticos,  são culpados de pensarmos que todos são iguais. Mas tudo isto só acontece pela indolência e ignorância das pessoas. Todo magistrado tem um funcionário que não gosta dele. É só descobrir este funcionário e se aproximar dele que você tem o magistrado em suas mãos.

segunda-feira, 23 de julho de 2018
















                                                    Estranhas horas. Te vi. Por quê fados te mostraste? Ah Fortuna cruel, ah duros Fados! Quanto melhor me fora que vira, os doces bem de amor? Ah bens suaves, por quê me deixas, sem ti  agora, por quê me deixas? Choro este fim, quisera eu mudar os fados, mas bem sei, contra a força do destino ninguém pode lutar e vencer. Parte-me o coração, de pensar o inexorável. E o berimbau ressoa sobre a Praça Dam. Um chapéu recolhia os florins atiçados pelos transeuntes. A ingenuidade de ser descoberto por um produtor. Não sabia que tudo era feito por trocas. Ninguém dava coisa alguma se não tivesse uma boa recompensa, seja em dinheiro, seja em sexo. Sim, porque o sexo no meio artístico conta tanto quanto o dinheiro. Hoje se fala em assédio. Quem assediava mais os produtores ou os artistas querendo fazer sucesso? Quanta hipocrisia? Agora depois que se alcançou, com seu corpo. tudo o que se queria, e sob olhar complacente e cúmplice de todos, passados, às vezes, mais de 20 anos,  denuncia-se alguém e  se destrói toda uma vida.  O delator, passa como o coitadinho, o delatado como monstro. Por quê na hora de empurrar a ceguinha entre as pernas não se a trancou e não se disse: Não, a este preço eu não quero a fama. Não, não foi isto o que aconteceu. Abriu-se as pernas generosamente e até mesmo ajudou-se a ceguinha entrar firmemente na garganta profunda. Por quem você chamou na hora que estava gozando? Oh, my God, oh, mon Dieu, foram tantas as línguas que se pede a conta. Porque só se chama por Deus, nestas horas de profundo gozo, ou profunda miséria. Quando aconteceu o tsunami quantos gritos de gozo, quantos de sofrimento? Humanopocrisia.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

















                                          Quem (Wie, diz o holandês) há de me socorrer quando por ti, choro lágrimas de sangue, não as de Joelma Calypso. Ah! se tu soubesses o que vai aqui dentro. Tu, que em impeto abrasas escondido, Tu, que em rosto corres desatado, quando fogo em cristais aprisionado, quando cristal em chamas derretido; Se és fogo, como passas brandamente? Se és neve, como queimas com porfia? 
                                   Derrama, sem doer, sangue meu, alma exangue, como extrair o sumo da vida? Bloed, bloed, quem te fará estancar? Por quem choras, alma minha? Se vires qu´inda posso merecer-te,  saudade minha, não hesites em fazê-lo,  dá-me a saber.
                                          Desde que te vi, amor meu, lutei por ocultar esta paixão. Em vão, ela me tomou inteiro o coração. Então gritei ao mundo, meu grande amor, fiz ver a todos minha dor, que todos saibam, dês o dia em que te vi, cativo estou.
                                           Nem sei mais onde estavas, dia fatídico, estranhas  horas. Horas estranhas. Era tarde no meu sertão. Os papagaios, ajuruetês, voavam alto, em dois, sempre o casal, fidelidade em cem anos, sempre em par. 

sábado, 16 de junho de 2018













                                                  Eu tocava berimbau na praça Dam. O exótico  som escorria pela praça, enquanto os guldens corriam para meu chapéu. Aquela loira está me olhando, ah se tivesse coragem. Se ela der mais um pouquinho de sopa, eu parto para ela, mas primeiro tenho que ganhar mais algumas moedas. Hahaha, me lembrei do Zé Bonitinho do Jorge Loredo. Garotas do meu Brasil varonil: Vou dar a vocês um tostão de minha voz. Mulheres atentem para o tilintar de minhas sobrancelhas. O chato não é ser bonito, o chato é ser gostoso. Não preciso mais pagar a Hansje, mas tenho que comprar algumas coisas. Sim no YMCA, não pago hospedagem, ou melhor, pago com trabalho. No primeiro dia, era tardezinha. Eu e Luiz, nos esforçando para falar inglês, Hansje sorri e diz: pode falar em português, eu morei no Brasil, em Belém, tenho um filho brasileiro. Que alívio, estava em casa.

domingo, 6 de maio de 2018









                                           
                                             Longe bem longe em margens invisíveis. Estou.  Nado a braçadas largas. Quero chegar. Chegarei de verdade? Du sårer meg, ouço e continuo, bárbaro. Pega do dicionário. Eu a estava machucando. Está fazendo um ano e meio, amor. Onde estarás, nesta hora onde estarás, em que coração, qual o novo amor que tu beijarás? Betty, Betty, querida, perdoa este pobre coitado, que bruto, não te soube amar. Sorridente no sofá, sorridente na ponte em Notre-Dâme.  Hoje vejo, perdeste  da juventude a candura, imersa estás, agora, a amar a fauna e esquecer quem por te chorou um dia. Quem te tornou amarga assim, meu doce pássaro? Eu fui pra Mesterdam, Por quê não pra Lorenskog. Jeg elsker deg. Sim podes crer. Sentada no sofá tu hás de dizer uma palavra que me leve a ti. O sofá um pouco velho de meu quarto na mansarda de um prédio no 16 rua d´Assas.

                                            
                                                     
                                                     
                                                     
                                                      

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

           
















                                                     No  quarto do hotel. Era Recife, Amesterdão? Eu estava dormindo, parecia estar dormindo. Ela se arrumava para sair. Eu a olhava de esguelha, não queria que ela descobrisse que eu estava acordado. Mas eu precisava sair e queria que ela se arrumasse depressa para eu pegar minhas coisas e sair.   Em nenhum momento a vi sem roupa. Ela fazia cera, dava a impressão de não querer. Não se sabe como o hotel errou, hospedando-a no num apartamento já ocupado. Seria a força do destino? Estava cansado, começara a arrumar as coisas e me deitara um pouco, tirar uma soneca, descansar.  Ela chega. A caixa de charutos. O convite a fumar juntas. Cachimbo da paz. Quereria ela dizer alguma coisa sobre nós? Temi por isto. Não queria que todos soubessem de nossa situação. A vida íntima de um casal só eles dois interessa. Ninguém mais há de ter ciência. Fim das confissões, quando a pobre mulher ia dizer seus pecados ao padre e este aproveitava para assediá-la.  A festa em Capela. Era Capela   mesmo ou outra cidade qualquer, sem nome, sem cara? O mordomo com cara de mamãe-sacode. O gerente do hotel, cheio de dedos. Os comentários maliciosos. O dia em que lhe ofereceram uma mulher num hotel em Brasilia. Não pedira nenhuma mulher. Eles oferecem mulheres assim, como se oferecem bombons. Que mundo!