Uma festa foreira, numa praça. Não era a Praça Dam. Um festival de dança no adro da igreja. Grupos folclóricos se revezavam no palco. Eu torcia por um grupo, tocavam, dançavam e cantavam. O nosso grupo. Se apresentavam no teatro. Uma arena ao ar livre. Retumbavam os tambores. Ela olhava com interesse por um dos dançarinos, nem bonito, nem feio. Meus olhos dançavam entre ele e ela. Me aborreci e chamei-a para irmos embora. Ela saiu meio zangada, e quase cai quando pisou numa poça d´água. Eu a segurei para não cair, mas ela se soltou e saiu cambaleando e se lambuzando toda pelas poças d´água. Olhavam-na, todos, Viam-na como uma bêbada, um sonâmbulo. Viu o primeiro homem, agarrou-o e beijou-o. Outros vinham, querendo ser beijados. Ela beijava a todos, na boca, às vezes um longo beijo, e, saia gritando. Viva o beijo, viva a liberdade. Indignado, (O homem tem brios), peguei-a pelos pés e a açoitei na cara de um sujeitinho boçal. Ela se recompunha e ia beijar um e outro, eu de novo a pegava pela pernas e a açoitava contra o malandro, mas nem assim ela desistia de beijar, nem eles desistiam de serem beijados. Dois vieram a mim. Elemento de mau gosto, bater em mulher daquele jeito. Afronta direta e sem respostas. Nada poderia fazer, senão fitar seus olhos e calar, o silêncio é de ouro e amedronta. Mas, por mais que a batesse mais ela sentia prazer em me provocar. Nada a afetava. Ela não sentia dor, mas prazer. e eu comecei a rir. Quando o choro não consola, melhor rir. Ria, o infeliz sou eu, mas também ela.
Abri os olhos, por acabar com esta guerra, eu quero paz, ainda que triste.