Por mais que eu queira não consigo me desvencilhar dela. Mijn God. Tenho-a na vigília, no sono intranquilo, na pachorra das tardes calorentas. Ela e eu, estávamos num ônibus, ou num trem, ou... como saber? A penumbra não nos deixa. Homens, não me lembro de haver mulheres. Provocadora, ela pediu um cigarro. Que não lho dessem, mas ela, bela, insistia. Alguém resiste à beleza? Todos lhe ofereceram cigarro. Ela o pegou da mão de um, olhando-os sedutoramente, que acudiram a acender-lhe o pito. Puxou o fumo e jogou-o na minha cara. Não me incomoda seu cheiro, mas não quero que fume. Já teve pneumonia uma vez, e foi proibida de fumar. Eu estirei o braço para tirar o cigarro de sua boca. Meu braço não o alcançava, mas começou a crescer, crescer e quanto mais crescia mais distante e pequeno ficava o cigarro. Ela soltava baforadas no meu rosto. Os rapazes riam de mim, impotente. Envergonhado, aos soluços, fugi. Tudo em mim corre sem caminhos, não saber, nem querer. Daar ga ik. E, estou agora, em casa. Em Capela, que deixei há exatos 610 anos, hoje modificada e transformada em hotel, por minha prima Nini. Na frente, a gente chamava varanda, agora havia uma escada, dando no segundo piso, agora, também uma varanda, onde se serviam bebidas, comidas e tira-gostos. Subi esta escada e encontrei uma amiga, nossa, meu e dela, hoje, mais dela do que minha. Aquela está perdida, disse-lhe. Está, já fiz de tudo, rapaz, ela não enxerga, disse-me. Eu vou lá, vou mostrar com quantos paus se faz uma arapuca, para aprender que não se deve insultar um homem, disse eu. Chatamata, por ser mulher, fere-me de morte. Não, cara, não adianta, só vai sobrar pra você, você bem sabe que é assim. Olha a Lei Maria da Penha. Deixa, só se aprende, apanhando. Deixa ela quebrar a cara, aí vai descobrir, quem realmente a ama. Estes caras só querem se aproveitar, tomar sua grana, já lhe disse, não adiantou. Desci a escada em abalada, riram de mim. Tentei dar-lhe um soco na cara. O braço não ia, pesado, tacape de jucá. Riam-se do meu esforço em vão. Minha amiga gritava do alto. Eles gritavam embaixo. Ela, zombava de mim. Stap op mij. Não sei onde estou, o que era, não mais é. Não mais respiro, o coração parou, os ossos se diluíram. A quem entregar minh´alma, se em nada acredito? Oh, Infinitude, onde queres me levar, neste compasso de jongo? Deixa-me escorregar para dentro de mim, que não me aborreçam as mugangas dos homens.
sábado, 27 de maio de 2017
domingo, 21 de maio de 2017
Ela estava ali na sala, acho, não sei, quebrando licuri? Disse, parece, é tudo tão nebuloso, que ia fazer uns exercícios. Sentada, como estava, derreou-se, melhor, inclinou-se para frente. Observou que seu vestido suspendia mostrando parte da coxa e da bunda. Pediu-me que o puxasse, de forma a esconder o corpo. Fui ajeitar sua roupa, foi aí que percebi que ele estava ali, sentado, encostado na parede. Olhei para ele. Só para me frisar ele manda um beijo para ela. Quem era ele, não sei, alguém ali que frequentava a casa e talvez até morasse com a gente. Percebi então que estava excitado. Aí, peguei-o pelo pênis e o aticei no chão, ele parecia gostar, fiz isto várias vezes, mas parece que ele não se machucava, quanto mais batia, mais sorria. Sorria de mim, mangava de mim, fazia arrelia. Eu me sentia arreliado. Ela olhava sem dizer nada, mas parecia pedir que não fizesse aquilo, porque em vão, meu ato, em vão porque entre eles havia algo que não se acabaria com minha violência. Me sentia impotente. Dei-lhe uma última sacudida, jogando-o no chão com estardalhaço e acordei agoniado, fugindo da cama como quem foge do diabo. Tonto, não sabia o que fazer, peguei o violão e fui fazer uns arpejos que havia aprendido com o professor Alessandro Pennezi, assim passaria meu desespero, minha agonia. Tenho medo, tenho de evitar me aproximar de lugares perigosos, janelas, varanda. A gente nunca sabe como vai reagir e evitar é melhor. Difícil mesmo é suportar a angustia de não ter nenhum efeito o esforço que se fez e se faz para debelar um inimigo.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Que digo? O futuro não tem segredos para mim. Prometeu sou, sou eu o Zé Promessa. O futuro que me foi revelado antes não se fez e hoje amarguro o dó de não ter sido. Sinto. Hei de confessar-me, perante o mundo. Dizer o que fiz, o que deixei de fazer. Pedir perdão pelo bem que poderia ter feito e não fiz, por covardia, timidez ou o diabo que o seja. Aqui e agora. Acum, dizem os romenos. Agora, mais do que nunca, para que se não perca a linha da história, para que não digam outros, o que não fiz ou que inventem histórias como fizeram com Lampião, feito bandido pelos vencedores. O inimigo se torna feio, bruto, agreste, mesmo doce, terno, amigo. Não quero que contem minha história, ninguém é confiável, por isto tento contar a minha, embora saiba que ainda assim haverá quem a ponha em cheque, principalmente aqueles a quem não agradei, ou continue não agradando. A humanidade conta tua história segundo seus interesses.
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