domingo, 26 de junho de 2016

NA PRAÇA DAM







                         





                                A Praça Dam não lhe sai do pensamento. Chapéu de palha no chão, de frente para o Palácio Real e  Nieuwe Kerk, toca o violão, esperando os florins para comer seu  brodje haring (arenque cru) num viskraam qualquer e tomar uma genebra que ninguém é de ferro. Sopra o vento sobre sua face. Para longe leva o som do pinho. Guinéus tilintam no chapéu. Pagará a hospedagem a Hansje no Albergue da Juventude e comprará um blusão na Bijenkorf. Dia chegará em que ela  terá orgulho de tê-lo tido como cliente. Doces sonhos da juventude em que tudo é possível, quando não se sentia ainda o peso do mundo nas costas; Quando  se pensa ter forças para vencer todos os obstáculos; Quando John Lennon ainda não tinha descoberto que o sonho tinha acabado. Porque uma das vantagens da juventude é esta de estar sempre sonhando e querer transformar o sonho em realidade, que não curva as costas. Casais sentam-se no chão e ouvem. Da garota de Ipanema ao deserto de Saara. Allah-la ô,ô,ô,ô,ô,ô. As vítimas da segunda guerra ouvem, caladas, imóveis na pedra, sem sentir, sem aplaudir o som  do pinho, canto, mais grito, menos canto. Socorro, quero comer. Dias de fome, dias sem ira. Doces. Canjica de milho verde, na cuia, mamãe me deu. Por isso eu vou voltar pra lá, não posso mais ficar, Rosinha ficou lá em Propriá.

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